quarta-feira, 13 de abril de 2011



A convivência é uma arte cada vez menos conhecida e apreciada. Tem um sintonia muito fina, é preciso sensibilidade e tato pra saber quando falar, quando calar, quando ser firme e quando oferecer um ombro em silêncio, é preciso menos egoísmo, mais disponibilidade e mais, muito mais tolerância do que temos sido capazes de apresentar.

Todos sabemos que ninguém é uma ilha, todos já lemos num livro, ouviramos numa música ou até quem sabe já tenhamos sentido na pele por que não se pode viver isolado, nem física, nem emocionalmente. Muitos tentam, todos os dias, sem sucesso, uns se dão conta do seu fracasso outros nem sempre.

Na minha opinião, continuamos a investir nas ações da solidão por um motivo bem simples:

O ser humano é essencialmente egoísta (quem não concorda que se exploda! Hahahaha!) e não tá afim de gastar seu tempo e suor tentanto melhorar seu relacionamento com um outro, mesmo por que não é uma torneira, que você conserta e pronto, tá consertada. É uma coisa muito menos durável e provavelmente muito mais suada que isso, precisa de um ajuste periódico além do que é uma coisa que não se conserta sozinho, é um trabalho conjunto, tipo remar um barco, os dois precisam remar na mesma direção senão ficarão rodando em círculos. Quem gosta de trabalhar em time pôe o dedo aqui! E quem prefere ficar rodando num barquinho com seu pai, filho, irmão ou parceiro ao invés de ficar tomando sol na proa de uma escuna com um colega põe o dedo aqui que já vai fechar!

Ah fala sério! Nada mais vale a pena tanto esforço hoje em dia, a não ser ganhar dinheiro, isso sim justifica tudo, o resto é pura perda de tempo, e tempo meu caro amigo é dinheiro, já diriam os mais sábios. Hoje a coisa é rápida, dispensável a gente usa e joga fora. Não deu certo, brigou, se desentendeu? Passa pra outro! Não prestou atenção, não deu tempo de conversar, preferiu garantir o seu....ops! Próximo! O

 que mais tem nesse mundo é gente!

Não quero posar de hippie ou de avessa à cultura consumista (mesmo pq a verdade vai bem longe disso), mas o fato é que não acho que pode ser assim, não quero que seja! Pelo que eu entendo convivência é manufaturado, artesanal, leva tempo esculpir um bom relacionamento, precisa de atenção, cuidado, carinho assim como também precisa do atrito da lixa e de umas boas cinzeladas pra tomar forma.

Eu gosto de dizer o que penso, de discutir meus relacionamentos, de discordar, concordar (sei que é raro, mas acontece), conversar, saber o que pensam as pessoas com quem convivo. Pra mim isso é indispensável pra uma boa convivência, porque para que se possa viver bem juntos é preciso deixar a vontade de "empurrar a coisa com a barriga" e realmente colocar a mão na massa.

É preciso saber o que o outro precisa, o que pensa, é preciso respeito mútuo, paciência, perdão. Uma infinidade de sentimentos que muita vezes temos preguiça de ir buscar lá no fundo do baú e acabamos usando o que está mais à mão, a intolerância e o egoísmo. Preferimos nos afastar quando algo num relacionamento não funciona exatamente como gostaríamos e culpar a falta de tempo (estamos muito ocupados tentanto ganhar dinheiro) por isso. As pessoas hoje em dia tem um milhão de amigos virtuais, com quem falam de amenidades e pagam um terapeuta pra falar dos que realmente pega. Nunca vou entender isso, gastamos todo o nosso tempo ganhando dinheiro pra gastá-lo comprando um amigo que deixamos de ter por não termos tempo? É meio confuso mesmo ou sou eu que sou disléxica. Um pouco dos dois? Ok. Fair enough.

Se não nos dermos conta que um relacionamento de verdade não é feito de concordâncias e formalidades e que sem guerra não existe e nem nunca vai existir paz, se não arrumarmos algum tempo pra falar o que temos por trás dos saltos altos e ternos bem alinhados corremos o risco de acabar onde estamos, rodeados por gente triste e vazia que enche o Facebook com fotos e comentários sobre suas vidas vazias num esforço patético de mostrar como são felizes.

Não, obrigada! Não gosto de onde estamos e voto por uma mudança. Que tal tentarmos nos acertar com quem andamos nos estranhando pra variar e tentar saber o que se passa na cabeça daquele seu parceiro de longa data? Sabe aquele, com quem você nem tem mais vontade de conversar porque já sabe exatamente tudo que ele pensa à respeito de absolutamente tudo? 

É muito fácil achar que estamos sempre certos, assim como é muito mais fácil começar novos relacionamentos que fazer a manutenção de um antigo mas como descobrimos muito cedo o mais fácil nem sempre é o melhor. Que tal tentarmos fazer o mais complicado, só dessa vez? Que tal tentarmos enxergar a situação pelos olhos da pessoa com quem você e procurar entender os motivos dela? Que tal admitirmos que erramos de vez em quando e precisamos de perdão dos outros tanto quanto devemos perdoá-los?

Investir num relacionamento mais profundo com quem te cerca e numa convivência agradável de verdade não vai te levar pra Europa ou te dar um carro novo no final do ano, mas garanto que paga bem!